Modelos de negócio para a web 2.0

Mídias Sociais em Debate 2008

Já passamos um ano desde quando foram totalmente abertas as comportas das mídias sociais no Brasil e isso foi feito com força total. A avalanche de informações e novidades era tanta, que causou um frisson em todo o mercado envolvido o que originou uma série de eventos presenciais – os BlogCamps, Café com Blog e o primeiro Debate sobre a Blogosfera. Tudo com o objetivo de gerar informações capazes de entender o mercado e o que eram estes novos canais de comunicação e relacionamento.

Um ano depois, evoluímos a uma velocidade incrível e hoje estamos novamente debatendo o mercado, mas com uma nova visão – de negócios.

E é com este foco, que vamos realizar no final do ano o FMDS – Fórum de Mídias Digitais e Sociais, mas antes disso, estamos agora com o Mídias Sociais em Debate 2008 acontecendo, iniciativa do Boombust e que tem como objetivo promover uma maior troca de informações sobre as melhores práticas de uso das mídias sociais, principalmente sob o ponto de vista das suas aplicações aos negócios das empresas.

Com base nisso, fui convidado para moderar um dos painéis propostos, a saber:

Modelos de negócios para a web 2.0

Seguem então as perguntas e respostas trocadas entre os nossos convidados:

Como aproveitar a colaboração e participação dos consumidores em comunidades, para gerar resultados efetivos (vendas) para o varejo eletrônico? [Ricardo Cabianca]

Bob Wollheim – este é um desafio. Se a comunidade tem alguma relação com um produto/serviço/segmento em princípio o varejo eletrônico fica favorecido. Um blog sobre tecnologia favorece a venda de produtos deste segmento? Em tese sim. O problema, a meu ver, é que as comunidades são grupos que se unem espontaneamente porque querem discutir, pensar, questionar, detonar, etc o seu assunto de interesse comum e o fazem de um modo pessoal e individual. Não estão ali pra comprar. Misturar publicidade e/ou varejo no universo da opinião (posts patrocinados ou algo nesta linha) me parece uma temeridade que acaba com a credibilidade do que se escreve ali em pouco tempo e que não é, a meu ver, o papel do blogueiro. Publicidade separada, ali ao lado, em tese deve funcionar bem (banners,. googleads, etc) por haver link direto entre o assunto e a comunidade mas o desafio é das empresas serem capazes de fazer uma comunicação crível, como são as comunidades em si. Nãoo adianta fazer um banner ou link patrocinado dizendo que o produto promete algo que ele não cumpre se exatamente ao lado as pessoas estão discutindo exatamente isso, ou seja, o não cumprimento das promessas do produtos. Em marca apaixonantes com Apple, Nike, etc, fica mais fácil… pra outras, complicado, penso.

Caio Novaes – Existe um problema na participação dos consumidores em comunidades, eles podem não gostar de determinado produto e se empenhar para falar mal dele. Porém, quando isso não acontece, o resultado é satisfatório, como quando alguém compra um DVD no submarino e escreve o que achou, etc. Isso influencia a venda posterior com toda certeza. Acredito que as empresas poderiam estimular os usuários a responder mais sobre os produtos, como no caso da Ebit por exemplo, que gera “bits” para cada pesquisa de mercado concluída, onde os mesmos se transformam em cupons que valem prêmios posteriormente.

Stelleo Tolda – No caso do Mercado Livre esse sempre foi um princípio crucial do negócio. Somos um site web 2.0 desde o nascimento. Quem cria conteúdo e gera comunidades em torno de suas reputações, vendas e compras é o usuário. De uns anos para cá, potencializamos isso com a criação de espaços de geração de conteúdo pela própria comunidade (guias, opiniões e catálogos), isso sem contar o sistema de reputações, perguntas e respostas e qualificações.

Generalizando isso para o mundo virtual, gerar conteúdo com propósito de benefício a toda a comunidade em torno de um site é importante para reverter em vendas. Esse é o princípio das livrarias virtuais, do varejo online como um todo: todos se valem do conteúdo gerado pelo seu cliente para convencer outros usuários com perfis e gostos similares e converter tudo isso em vendas.

Ricardo Cabianca – Eu fiz a pergunta e tenho também a minha visão ou possível resposta para ela. É fato que o primeiro passo de um consumidor, quando ele vê uma comunidade ou algo semelhante, capitaneada por uma marca, é imaginar que aquele espaço será usado para “empurrar” produtos, conceitos e venda. Mas nunca devemos olhar para este tipo de estratégia, como única forma de contato com o consumidor. Aliás, é importante sempre avaliar todo o mix de marketing. Portanto, se a empresa tem um bom produtoserviço, um bom relacionamento com o seu consumidor, entrega o que promete, e principalmente, se confia na própria marca e tem a visão moderna de que toda informação vinda dos consumidores tem um valor muito alto e estratégico, a formatação de uma comunidade terá um resultado muito positivo. Sendo assim, respondendo a minha própria pergunta, o melhor aproveitamento de uma comunidade por parte de uma empresa, de varejo eletrônico, é a proximidade e o engajamento do consumidor com a marca.

Ouvi outro dia que umas blogueiras americanas na área de moda disseram em um evento aqui no Brasil (blogs de moda) que blog é tão pessoal,  tão íntimo, tão em primeira pessoa… que não é lugar onde se deve ganhar dinheiro, ou seja, não é lugar onde se tem publicidade, post patrocinado, etc, etc…. Qual a sua opinião sobre isso? [Bob Wollheim]

Caio Novaes – Acredito que se o espaço é tão pessoal, tão íntimo e tão em primeira pessoa, a dona(o) do blog tem todo o direito de fazer com ele o que bem entender, isso inclui publicidade com banner ou contratação de espaço de mídia. Quanto a questão de ética sempre comentada quando este tema é lançado, acredito que se o blog trata de um assunto específico e tem um leitor que ali busca uma informação séria, devemos identificar o post como patrocinado, agora quando o blog trata de um assunto como humor e entretenimento, onde o usuário não busca uma informação séria e um assunto mais direcionado, acredito que não tenha problemas em não colocar a tag “post patrocinado”, pois o usuário estará ali apenas pensando em se entreter, o que uma publicidade bem feita pode até fazer.

Stelleo Tolda – Não sou totalmente contra nem a favor de se ganhar dinheiro com o blog. A grande questão é: ganhe dinheiro mas assuma que aquele determinado post tem patrocínio da empresa X ou seja transparente com os seus leitores. Vamos supor que você recebeu um aparelho novo para testar e postou suas impressões no blog. Normal. Perfeitamente aceitável desde que você diga que aquele produto lhe foi enviado com este propósito. O que não concordo são textos escritos apenas a favor de determinado produto ou empresa porque eles estão te pagando para fazer aquilo.

Na web, a transparência e a honestidade são a alma do negócio. Acredito que isso resuma tudo!

René de Paula – Quanto a blogs: na hora em que blogs passam a ter modelo comercial viram veiculo e deveriam mudar de nome. E deveriamos distinguir blogueiros de formadores de opiniao. Pilotar uma ferramenta tao simples como um blog nao eh o mesmo que ter algo relevante para dizer para um público especifico.

Ricardo Cabianca – Blog é um veículo, tal qual uma revista impressa, um funzine de escolafaculdade, uma rádio pirata, um grande jornal ou portal. Eles geram conteúdo – independente de quem está por trás – e este é o “produto” mais consumido em toda a história da humanidade. E como qualquer veículo, deve ser pautado pela responsabilidade sobre o que é publicado, ou seja, qualquer informação tem seu valor e vai impactar de alguma forma na vida social, seja de quem lê, de quem vende, de quem compra, etc. Sobre ganhar dinheiro com “algo tão pessoal”, me vem a mente, por exemplo, uma biografia. Ou seja, é uma história muito pessoal, que é publicada para ser consumida….ou não é?

As redes sociais são a grande febre da web para as empresas neste ano. Assim sendo, você pensa que a empresa deve interferir/participar de todos os ambientes sociais online? Existem locais em que a empresa NÃO deve interferir? [Stelleo Tolda]

Caio Novaes – As empresas devem monitorar todos os ambientes sociais online, porém, nem todos devem sofrer a interferência ou participação das mesmas. Um exemplo é o Twitter, uma ferramenta onde muitos aproveitam para falar sobre diversos produtos, as empresas devem monitorá-lo, mas uma empresa criar um perfil fake e entrar lá para divulgar e/ou discutir sobre algo, é uma atitude questionável. Os meios estão saturados de publicidade e tem alguns lugares onde elas não são vistas com bons olhos, twitter é um exemplo clássico disso, por ter muitos “formadores de opinião”, um produto pode acabar denegrido ao tentar ser divulgado, por melhor que seja a intenção.

Ricardo Cabianca – Creio que monitorar todas (ou pelo menos as possíveis) redes sociais é importante para entender o que e como os consumidores vêem a empresa, sua marca, produto ou serviço. Interferir de forma a mudar qualquer questão negativa, só se for para esclarecer, assumir, corrigir, mas sempre sendo efetivamente a própria empresa e não um “fake”, que é totalmente contrário ao conceito de transparência que estamos vendo no meio web atual.

Se web 2.0 e “conversar” sao realmente a panaceia universal tanto no relacionamento com clientes quanto no desenvolvimento de produtos e serviços, por que o walled garden da Apple, sempre tao secretiva e mestre no uso de PR tradicional, funciona tao bem? Nao deveriamos ser mais ponderados e reconhecer que web 2.0 funciona em alguns casos mas nao todos? Curiosamente, milhares e milhares de funcionarios da Microsoft tem seus proprios blogs e publicam com muita liberdade… [René de Paula]

Stelleo Tolda –  Acredito que tenha sido uma estratégia da Apple até então. A Apple privilegiava os membros de sua comunidade, tratando-os com ares de exclusividade, membership, pertencimento. Não significa, no entanto, que eles não façam uso de estratégias virais, baseadas na rede.  O market share da Apple em relação aos computadores é bem pequeno em relação aos seus concorrentes, porém, não é a mesma estratégia que estamos assistindo para o iPhone, por exemplo. Portanto, o jardim secreto e fechado de até então cede espaço às ações virais e ao furor de se desejar um iPhone da Apple. E nisso, a web 2.0 serve a eles muito bem: pulverizando, espalhando e divulgando o produto.

Por outro lado, concordo em que há casos que a web 2.0 não funcione e nem vá funcionar. São casos destinados a públicos, por exemplo, que não estão na rede (seja por opção ou por falta de acesso).
Ricardo Cabianca – Minha visão pode ser simplista, mas tem funcionado para mim: a web é mais um meio e não “O” meio.

Recentemente tivemos downtime da S3 da Amazon, Google Apps, Google Docs, Gmail, Twitter, Blackberry… Ate que ponto e realmente sensato negocios dependerem diretamente de Cloud Computing ou servicos 100% online? Sem contar a questao de seguranca de dados e privacidade… [René de Paula]

Stelleo Tolda – Há duas faces de uma mesma moeda: a primeira é em relação a dispor e oferecer de tudo em um ambiente web. Acesso fácil e ubíquo. A segunda questão diz respeito à privacidade e segurança: neste caso, a empresa deve avaliar bem a sua estratégia. Se for uma companhia que prima pelos códigos abertos e pela colaboração de pessoas externas à sua empresa, ótimo; do contrário, precisa planejar o que vale ser oferecido no formato de computação em nuvem e o que vale ser mantido como software proprietário.

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